A relação entre confinamento de bovinos e bem-estar animal

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A relação entre confinamento de bovinos e bem-estar animal

A bovinocultura de corte brasileira apresentou transformações notáveis nas últimas décadas, resultantes principalmente da utilização de cruzamentos inter-raciais bem como da aplicação de sistemas mais intensivos de produção como integração lavoura-pecuária, semiconfinamento e confinamento. Entretanto, é necessário ressaltar que apesar do confinamento de bovinos ser benéfico para a melhoria na eficiência de produção de carne, existe o risco deste sistema de criação não contemplar as necessidades dos animais, dentre elas, boas condições de conforto físico e psíquico.

O confinamento no Brasil ocorre principalmente na fase de terminação e por um período curto de tempo, em média 80 a 100 dias, mas as diversas mudanças no ambiente do animal têm importantes impactos no seu bem-estar. Uma das principais alterações no ambiente é a baixa disponibilidade de espaço que pode dificultar a adaptação, provocar doenças e reduzir o desempenho dos animais, principalmente por aumentar as montas e brigas entre os bovinos e acrescer a quantidade de poeira e/ou lama no ambiente.

No Brasil, disponibiliza-se em média de 8 a 12 m²/animal, mas não existe um consenso, sendo recomendado por técnicos de 8 a 50 m²/animal. Nesse contexto, realizamos um estudo no segundo ciclo de confinamento (setembro a novembro) em que avaliou a disponibilidade de 6, 12 e 24 m²/animal.

Estudos revelam que 24m²/animal ofereceu melhores condições ambientais, evidenciada pela menor frequência de ocorrência de poeira (antes de começar a chover) e profundidade da lama (depois que começou a chover), menores porcentagens de animais com corrimentos nasal e ocular e com problemas de locomoção, além de menor porcentagem de animais com diagnóstico de bronquite, enfisema pulmonar, nefrite e cisto urinário. Além disso, os animais mantidos em 24m² apresentaram maior ganho de peso médio diário e menor número médio de hematomas novos e superficiais por carcaça. Os ganhos de peso encontrados nesse estudo foram 1,60, 1,69 e 1,77 para os animais mantidos em 6, 12 e 24m², respectivamente. Adicionalmente, o custo de manutenção dos currais foi maior conforme a redução do espaço, uma vez que se gastaram mais horas de máquinas para limpeza dos currais, mais cascalhos e maior manutenção das cercas.  Conclui-se que aumentar a disponibilidade de espaço para bovinos de corte em confinamento reduz o estresse, favorece o bem-estar animal e melhora o desempenho e a qualidade das carcaças dos animais.

É inegável que a adoção de sistemas intensivos pode aumentar a capacidade de produção de bovinos e que a demanda pela mesma continuará crescente nas próximas décadas. Entretanto, ressalta-se que muitas análises financeiras são realizadas visando à lucratividade dos sistemas, mas nenhuma delas considera o quanto se deixa de ganhar ao manter os animais tentando se adaptar a um ambiente que não atende às suas necessidades.

Por Fernanda Macitelli, profa da UFMT e integrante do grupo de pesquisa ETCO.​

Foto: Fernanda Macitelli

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