Sobre encontros, mulheres e futuro
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Por Mariana Beckheuser*
Não é sempre que uma representante de uma indústria de pequeno porte, como eu, tem a oportunidade de participar de um bate-papo com a Head de Sustentabilidade de uma multinacional como a Helen Pedroso, da L'Oreal, com uma executiva de uma das maiores empresas brasileiras e referência em programas de sustentabilidade, como a Lívia Queiroz, da Klabin, e com Nina Silva, da Black Money, uma mulher negra que, apesar de todas as barreiras, abriu seu espaço no mercado e está na lista das mais poderosas do mundo. E ainda mediadas por uma outra mulher com um olhar super sensível e conectada à inovação e responsabilidade social, que é a Patrícia Martins, do Senai.
O tema dessa conversa, que ocorreu durante o Congresso Sesi ODS 2022, em Curitiba, era os desafios da implementação de ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) nas empresas. Falamos de sustentabilidade, de diversidade e de como as companhias têm integrado o ESG às suas estratégias.
Do papo direto e reto de Nina nos lembrando que diversidade no Brasil não trata só de minorias – as mulheres são maioria, assim como há mais negros e pardos que brancos na população –, discutimos como trazer de fato a inclusão para o negócio. E como "não temos planeta B"*, debatemos sobre como é fundamental empresas olharem para seus compromissos ambientais e contribuírem com as metas de descarbonização, de acordo com seus negócios e escala.
Me alegro por ter tido a oportunidade de trazer para o debate a visão do agro sustentável, de falar do que o setor vem fazendo para integrar produção e preservação, e de mostrar como a Beckhauser contribui para isso. Nosso olhar para o bem-estar animal e humano e nossa tecnologia ajudam a produzir mais com menos impacto, utilizando menos área. Acreditamos que essa agropecuária é e pode ser, cada vez mais, parte da solução da questão ambiental, produzindo alimento com sustentabilidade.
Volto do Congresso, além de nutrida por esse encontro que representa a potência do feminino, com três palavras-chave sobre como trazer as pautas ESG para os negócios:
RECONHECER - Investigar para ter um diagnóstico sobre a diversidade na equipe, para (re)conhecer a falta de diversidade, e descobrir o impacto ambiental gerado por nossos produtos e processos produtivos para tomar ações concretas.
METAS - Usar os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) como guia e eleger os que são prioridade, aqueles que mais diretamente se conectam ao negócio, para trabalhar. Essa foi a lição da Klabin, que tem um mapa de indicadores que serve de referência para muitas empresas. E pode começar devagar, com poucas metas – é bom lembrar que ao tentar abraçar tudo de uma vez, certamente algo ficará de fora. O foco em poucos ODS pode ajudar em muito a alcançar resultados palpáveis. Mas me atrevo a acrescentar que não deve faltar ousadia, afinal as metas, como a utopia lembrada por Galeano**, são o horizonte que nos faz caminhar.
INTENCIONALIDADE - Para mim, a mais fundamental da lista. A consciência, a vontade e a disposição para a ação têm um potencial enorme para transformar a organização – não importa seu tamanho, idade ou ramo – e contribuir para a construção de um futuro saudável.
*Frase utilizada pelo Sistema B, movimento que promove o modelo de negócios que aliam lucro financeiro ao bem-estar da sociedade e do planeta.
**Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano, poeta uruguaio, in ‘Las palabras andantes?’, publicado por SigloXXI, 1994: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Mariana Soletti Beckheuser
Presidente-Executiva da Beckhauser, indústria de equipamentos para a pecuária. É sócia-fundadora da Associação Parsifal21 – que trabalha no apoio ao fortalecimento e à transformação de negócios com propósito –, conselheira do CPCE-PR (Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial), membro da diretoria do Sindimetal (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de material elétrico de Maringá e região) e representante da entidade no Centro de Inovação de Maringá e no Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maringá. Foi considerada pela Revista Forbes uma das 100 Mulheres Poderosas do Agro em 2021. Sob sua gestão, a Beckhauser foi vencedora do Prêmio Sesi ODS em 2021 e em 2022 e classificada entre as três indústrias de médio porte que mais inovam para a sustentabilidade no Prêmio Nacional de Inovação, promovido pela CNI e Sebrae.