Vacinação é a principal ferramenta para manter o status sanitário de um rebanho contra as doenças reprodutivas e produtivas
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Saiba o porquê de imunizar os bovinos em período de cria e adotar protocolos de sanidade reprodutiva só traz benefícios para o rebanho e para os seus negócios
Utilizar vacinas na pecuária se tornou rotina. Além de ser uma medida preventiva contra doenças infecciosas, também reduzem as perdas e a necessidade do uso de antibióticos para os tratamentos nos animais de produção, o que diminui os custos e também os resíduos de fármacos em produtos de origem animal. A vacinação visa prevenção, controle e até mesmo a erradicação de doenças, melhoria da saúde pública e aumento dos índices produtivos e reprodutivos dos rebanhos.
Depois do manejo nutricional, o manejo sanitário de um rebanho é de extrema importância e a vacinação é a primeira ferramenta a ser lembrada.
Agora, vacinar é o mesmo que imunizar?
Não! O ato da vacinação é uma prática simples, mas que requer alguns cuidados especiais e conhecimentos para imunizar bem os animais e evitar prejuízos aos produtores, danos aos animais e para que o processo de imunização tenha maior chance de ser bem sucedido.
Devemos sempre observar vários fatores para que a eficiência da imunização desencadeada pela aplicação da vacina não seja prejudicada. Esses fatores podem estar relacionados ao transporte, conservação (cadeia de frio), manuseio das vacinas e execução da vacinação propriamente dita.
Os principais objetivos da vacinação são:
- Proteger o rebanho e evitar surtos de doenças infecciosas;
- Proteger o indivíduo (animal) de doenças infecciosas associadas à mortalidade e evitar sequelas de longo prazo que possam interferir no desempenho ou, até mesmo, interromper o período de vida produtiva/reprodutiva de um animal ou de todo um rebanho;
- Controlar e, até mesmo, erradicar doenças infecciosas como Aftosa, Brucelose, Raiva, entre outras.
Planejamento
Uma anamnese detalhada da fazenda deve ser feita antes de se montar um Calendário Sanitário Vacinal.
Induzir proteção de rebanho pelo uso da vacinação deve-se levar em conta o tipo de sistema da propriedade: se é cria, recria, engorda, ou ciclo completo. Além disso, é preciso avaliar se há a manifestação de doenças ou não, se há relatos de casos de doenças endêmicas na região, relatórios informativos sobre o diagnóstico e a prevalência de doenças contagiosas publicados por órgãos oficiais de vigilância sanitária regionais.
Em seguida, deve ser montado um calendário de vacinação, onde estarão definidas as vacinas a serem utilizadas, categorias que receberam e a melhor época para a aplicação de cada uma delas. Este calendário deverá ser definido em conjunto com o médico-veterinário responsável pelo rebanho, o gerente da propriedade e o proprietário, para que todos estejam cientes das necessidades vacinais dos animais do rebanho.
As vacinas obrigatórias dos bovinos devem ser incluídas, inicialmente, no calendário anual de vacinação. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) define um calendário oficial para a vacina de febre aftosa em que os meses mais adequados para vacinação são definidos segundo o Estado. Geralmente a campanha ocorre nos meses de maio e em novembro. Em algumas regiões endêmicas se faz também com a vacinação contra Febre Aftosa a vacina de Raiva, sendo essa uma orientação estadual.
Outra vacina oficial importante é contra brucelose. Não existe uma data definida com calendário oficial de vacinação, entretanto o que fica definido são o sexo e a idade do animal em que a vacina deve ser administrada (vacinar apenas fêmeas entre três e oito meses de idade).
Definidas as datas das vacinas obrigatórias, o produtor em conjunto com o veterinário e gerente da fazenda deve incluir as vacinas produtivas para proteger os animais contra determinadas doenças, utilizando uma ou mais das dezenas de vacinas disponíveis no mercado.
Para definir o calendário vacinal pensado na reprodução devemos identificar quando é a Estação de Monta (EM) da propriedade. Na maior parte do país inicia-se no primeiro dia de novembro, terminando ao final de janeiro (90 dias) ou de fevereiro (120 dias).
Estabelecida a EM, fica fácil de identificar a Estação de Nascimento (EN), assim, sendo possível organizar a vacinação das fêmeas em atividade reprodutiva nas mais diversas categorias da propriedade (nulíparas, primíparas, secundíparas, pluríparas e vacas solteiras).
Uma das vacinas mais antigas utilizadas em fêmeas de cria é contra o paratifo (Salmonelose) e para colibacilose (E. coli). Essas vacinas são feitas no 8º mês de gestação das mesmas. Atualmente, elas foram substituídas pelas vacinas contra Diarreias Neonatais, onde além da proteção contra E. coli e Samonella spp pela cepa J5, elas possuem em sua composição além da cepa J5 os Vírus G6 e G10 de Rotavírus, sendo uma das vacinas mais conhecidas com essa formulação, a Rotatec J5.
Outra vacina muito importante, que muitas vezes é negligenciada nas matrizes, é a Clostridiais (Policlostrigen), que imuniza contra carbúnculo sintomático, gangrena gasosa e a enterotoxemias, além de botulismo. Por que? Lembremos sempre que os animais de cria estão sujeitos a desafios diferentes que animais de engorda e também precisam produzir um colostro de qualidade para seus produtos, principalmente para protegê-los nos primeiros 60 a 90 dias de vida.
Depois das vacinas massais (Clostridiose, Botulismo e Raiva), devemos dar atenção às vacinas especiais reprodutivas, que são contra Rinotraqueite Infecciosa Bovina (IBR 1 e 5), Diarreia Viral Bovina (BVD 1 e 2), Campylobacteirose (C. fetus subsp. venerealis e C. fetus subsp fetus) e Leptospirose.
As vacinas Reprodutivas (IBR, BVD, Campylo e Lepto) devem ser feitas preferencialmente antes da EM, anualmente em setembro ou outubro, com reforço semestral para vacina de Leptospirose.
Em propriedades com alto desafio para quadros respiratórios, o uso de vacina respiratória conjugada (Vírus e Bactérias) deve ser implementada de preferência antes dos meses mais frios do ano (sendo maio uma boa data).
Atenção!
Vacinas produzidas com organismos vivos (vacinas vivas atenuadas) merecem atenção especial, principalmente a vacina contra brucelose, que pode causar doença em humanos (zoonose) ou apresentar reações não conformes. Portanto, o manuseio desses produtos deve ser criterioso e realizado com cautela por um profissional qualificado (médico-veterinário ou vacinador treinado, atuando sob responsabilidade do médico-veterinário).
Todos devem saber que a resposta imunológica dos animais (proteção) após a aplicação de uma vacina não é imediata e seus efeitos podem aparecer somente após, pelo menos, 15 dias. Sendo assim, animais vacinados recentemente ainda podem apresentar a doença, pois já poderiam estar infectados antes de serem vacinados ou terem entrado em contato com o patógeno (microrganismo que causa a doença) nesta fase entre a vacinação e a imunização do animal.
Os animais sadios e bem nutridos têm melhor resposta imunológica às vacinas do que os doentes ou mal alimentados.
Muitas das doenças que acometem rebanhos de cria já estão nas propriedades e, portanto, a utilização dessas vacinas em rebanhos acometidos vêm para diminuir os sintomas das doenças como morte embrionária precoce, repetição de cio e abortos. Por isso, a adoção das vacinas reprodutivas busca minimizar os problemas advindos destes patógenos ate que o status imunológico esteja consolidado após 2 a 3 vacinações.
Praticamente, todas as vacinas (inativadas ou vivas atenuadas), já que nem todas são totalmente vivas atenuadas, na primo-vacinação (primeira vacinação) exigem a aplicação de uma dose de reforço, normalmente feito de três a quatro semanas após a primeira dose. Os reforços de vacinação são para garantir que houve estimulação adequada do sistema imunológico e formação de células de memória. Lembrando que: quando se interrompe a vacinação por mais de um ano, devemos recomeçar a vacinação com dose e reforço.
Vale à pena mencionar que animais que não recebem a dose de reforço na primo-imunização, mesmo que posteriormente sejam revacinados no intervalo correto para determinada vacina, podem nunca se tornar protegidos.
Conclusão:
Quando realizada adequadamente, a vacinação é a principal ferramenta para manter o status sanitário de um rebanho para as principais doenças reprodutivas e produtivas, alcançando os melhores resultados possíveis. Entretanto, a utilização de vacinas como medida única de controle de doenças não é eficaz, pois várias doenças infecciosas e parasitárias ainda não dispõem de vacinas para um controle adequado das infecções, como por exemplo, a neosporose. Portanto, além das vacinas, um bom manejo aliado à nutrição e a utilização adequada de antimicrobianos e antiparasitários, deve-se sempre minimizar as quedas na imunidade dos animais.
Atualmente, por meio de vários trabalhos publicados sabemos que a utilização de programas vacinais associados à suplementação mineral e vitamínica produzem um aumento no status imunológico das propriedades de cria.
Por Reuel Luiz Gonçalves, médico-veterinário e gerente de Serviços Técnicos da Biogénesis Bagó